11 junho 2013


periferia.trabalhou o dia todo pintando paredes. por volta das seis da tarde um cheirinho de churrasco entrou pela janela. não comia comida de verdade desde quarta feira, era sábado. decidiu descer e pegar uma refeição. o restaurante era do outro lado da rua. lavou o rosto, retirou a tinta das mãos, deu uma ajeitada no cabelo. usava camiseta e calças bailarina, nos pés tenis pretos. básica ! ao entrar no restaurante prontamente um garçom pediu que o acompanhasse até o fundo do salão. apenas tres mesas estavam ocupadas. ia perguntar se havia apenas opção rodízio ou se poderia ser a quilo, quando o garçom avisa: teremos o prazer de servir graciosamente um marmitex com todas as opções do buffet se você não se importar de aguardar aqui no fundo. poderia chamar a polícia já que havia uma base móvel a menos de 100 metros. em uma fração de segundo decidiu: dane-se, vou comer de graça.
foi para casa pensando na fome. a comida estava muito boa.sushi de abacaxi, carpaccio, cuzcuz de frutos do mar e uma deliciosa salada de polvo.um suculento pedaço de pernil e um pedaço de lasanha. pensou: voltarei lá, na certa usando meus piores trajes... huahuahuahuahuahuahuahuahua
Entro no vagão praticamente vazio, um senhor dormindo lá no fundo, um rapaz perdido no som que sai de seu celular e bem perto de mim uma moça com o olhar passeando pelo vazio... O vagão exalava o cheiro dos livros comprados em sebos. Um misto de perfume impregnado e poeira de salas fechadas. Um cheiro que preenchia todos os espaços. Pensei ser o livro que estou lendo neste momento e que estava dentro da bolsa, como que por reflexo o peguei e dei uma cheirada. Não era ele. Começa então minha ginástica olfativa. Era ela, a moça de olhar no vazio. Era o perfume dela. Aspirei aquilo como se fosse tragar o último ar que houvesse no planeta. Profundo, intenso, me deliciei, e viajei até as histórias lidas na infância. Talvez ela trabalhasse em uma biblioteca, talvez fosse somente o perfume, só sei que hoje viajando por apenas seis estações visitei novamente "Meu pé de laranja lima, O menino do dedo verde e Alice no País do Espelho"... Ao chegar em casa corri pro armário e fui abraça-los com a saudade de amor que partiu há tempos...