04 janeiro 2023

Dias de glória

 

Por tudo que vivi até aqui, agradeço aos céus por estar viva, e ter a oportunidade de presenciar a grandeza destes dias.
Só para situar este relato no tempo-espaço, é preciso descrever como foram os últimos seis anos de um Brasil que eu já não sabia mais como definir...
No ano de 2016, Dilma Roussef era presidente do Brasil, e enfrentava sérios problemas de governabilidade e confrontou diretamente uma oposição corrupta que acuada a ameaçava com um impeachment. Dilma não se rendeu e foi vítima de um golpe orquestrado pelo presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Assume a Presidência, o vice Michel Temer. Foram dois anos de um governo apático e inoperante. Tudo se encaminhava para que Lula fosse candidato e ganhasse as eleições de 2018, mas uma trama novelesca foi armada, condenaram e prenderam Lula por 580 dias, tempo suficiente para proibi-lo de ser candidato nas eleições, e em seu lugar concorreu Fernando Haddad, que perdeu a eleição para o pavoroso, inominável, Bolsonaro. E então iniciaram as trevas.
Quatro anos das experiências mais pavorosas que presenciei. Instalou-se um cenário surreal de morte, destruição, ignorância e ódio. Este descritivo pode parecer exagerado, mas é a pura realidade histórica.
Começam a implantar um império de polêmicas, mentiras, um culto anti ciência, uma religiosidade distorcida, uma moral às avessas, o louvor às armas, a destruição ambiental, a total exclusão das minorias, a inversão de valores, a perseguição da cultura e da educação e por fim a valorização da barbárie.
Para cada um destes itens existem vários exemplos. As instituições de governo foram corrompidas e destruídas pelas entranhas, a corrupção expostas às claras e a realidade negada sem pudores, muitos assassinatos (inclusive políticos), a violência crescente, e surgiam propostas de leis de excludente de ilicitude para uma polícia que mata e cria roteiros onde a vítima é sempre culpabilizada por sua própria morte. Aprovaram que cada pessoa poderia ter até 60 armas, inclusive de grosso calibre, retiraram verbas da educação e da saúde, negaram a ciência até o limite da manifestação desavergonhada sobre a Terra ser plana. Perseguiram religiões, invadiram e destruíram terreiros de candomblé e umbanda, tentaram impedir
que uma menina de 11 anos, grávida,vítima de estupro, tivesse o direito de abortar. Negaram a terra aos indígenas, incentivaram a invasão das aldeias para exploração de madeira e garimpo. Envenenaram os rios. Retiraram a proteção de terras protegidas. Publicaram mentiras incansavelmente até convencer pais a não vacinarem seus filhos.
Fomos atingidos pela pandemia do Covid-19, atrasaram a compra de vacinas, fizeram maciça campanha pelo uso de medicamentos comprovadamente sem efeito, até agora são quase 700 mil mortos e ainda não temos vacinas para as crianças.
Foram muitos os incêndios e os desastres causados por enchentes e desmoronamentos de estradas e pontes. milhares de pessoas desabrigadas ou desalojadas. Rompimentos de barragens e destruição de cidades inteiras. A destruição da Amazônia se agigantando debaixo dos nossos narizes.
O crime organizado ocupando todos os espaços deixados por um Estado ausente.
O Brasil foi destroçado. E virou piada aos olhos do mundo. Uma piada incômoda e sem graça.
Parecia que absolutamente tudo em que eu acreditava não existia mais. A mais louca distopia estava estabelecida. Um fim dos tempos sem fim. O eterno "Dia da marmota" dentro de um pesadelo assombroso. Diariamente uma nova notícia ruim e a cada dia o "ruim" ganhava uma nova escalada.
Dias desesperadores.
Tive vontade de morrer. Muitos morreram. Suícidio virou coisa comum. Perdemos muitos.
O país rachou, o radicalismo virou um abismo que separou famílias, amigos e amores.
Passamos a viver entre radicais e fanáticos.
O Superior Tribunal Federal julgou que o juiz Sérgio Moro, que condenou Lula, foi parcial, e que todos os processos fossem considerados anulados.
Lula estava livre e poderia participar do próximo pleito eleitoral.
Bolsonaro usou todo o dinheiro que pode para comprar apoio, o Congresso aprovou, na calada das noites, alterações arrepiantes da Constituição. Instalou-se o Orçamento Secreto, e rios de dinheiro público desaparecidos debaixo de segredos sem fim.
As pesquisas sempre apontaram a vitória de Lula, mas nunca foi possível comemorar pois a diferença do número de votos entre os dois candidatos era mínima.
A campanha foi literalmente violenta, pessoas mortas por sua opção partidária. Um cuidado de não sair às ruas usando uma ou outra cor de vestimenta que pudesse despertar atenção e ódio dos oponentes. Pouca campanha de rua, uma aura de desconforto geral.
Foram dois turnos de uma eleição disputada voto a voto, alianças inimagináveis foram feitas e o país dividido quase exatamente ao meio. 50,9% dos votos válidos para Lula.
Bolsonaro não conformado não trabalhou mais, assinou medidas bombas enquanto teve posse da caneta presidencial, se ausentou e por fim fugiu do país temendo ser preso por todos os horrores que cometeu.
50,9% dos votos válidos ou seja 58 milhões de pessoas cantando e fazendo festa pelo Belzebú que deixava o país. Uma música de protesto e livramento virou febre e a letra diz : "Tá na hora do Jair já ir embora, arrume as suas malas, dá no pé e vá embora ! Vá te embora, vá te embora, mete o pé e vá te embora !"
E para a nossa alegria ele foi.
E chegou o tão esperado dia da posse do novo governo. Dia 01 de janeiro de 2023.
Nada era definido antecipadamente pois a segurança era uma preocupação pois os fanáticos e os radicais aprontaram muito no período entre o resultado das eleições e o dia da posse. Teve fechamento de estradas, acampamento na porta dos quartéis em diversas cidades, quebra quebra e terror em Brasília e a tentativa de explodir um caminhão de combustível cujo destino era o aeroporto de Brasília.
Mas o grande dia chegou, e o povo foi em caravana para Brasília, gente de todos os lugares do país, pretos, pardos, indígenas, mulheres, lgbtqia+,homens, velhos, crianças,  jovens, gente de toda cor, toda raça, toda fé... Janja , a primeira dama organizou uma grande festa para receber todos e festejar os novos tempos.
Que dia meus senhores, que dia minhas senhoras, que dia !!!
Valeu resistir a tudo aquilo que passamos. Valeu estar viva para ver tudo aquilo em que eu acredito raiar lá na linha do horizonte. Amanheceu um dia de muito sol, tudo ainda estava colorido e feliz após a festa do Reveillon, e chegara enfim o dia tão esperado.
Lula desfilou em carro aberto e sem colete de segurança desafiando a aura de medo instalada pelos opositores. Passou a tropa dos militares assumindo o comando das forças armadas que foram antagonistas declaradas. E na hora mais esperada que é o momento de subir a rampa do Palácio do Planalto, subiu abraçado a representantes legítimos do povo: um menino negro, uma cozinheira, um professor, um operário, uma catadora de materiais recicláveis, o cacique Raoni, um artesão, a esposa Janja e a cachorrinha viralata Resistência, Geraldo Alckimin e sua esposa Lu.
Um povo chorando em rios de lágrimas de emoção e felicidade e gratidão, por termos lutado, por termos resistido, por termos sobrevivido e por nos sentirmos vivos e representados.
O discurso do presidente Lula nos lembrou que ainda temos inimigos terríveis a vencer: a fome, a pobreza, o racismo, os preconceitos e o ódio. Teremos que trabalhar muito para reconstruir tudo que foi destruído, arrasado, teremos que salvar e recuperar a Floresta Amazônica e os outros biomas, teremos que dar às crianças a chance de recuperar os anos perdidos sem escola, cuidar da saúde daqueles que esperam nas filas e ainda enfrentar o fanatismo e radicalismo que se instalaram por todos os cantos do país.
É hora de união e reconstrução.
Foi a festa mais linda que já vi.
É como estar sonhando, não quero acordar.
Os ministérios foram anunciados, e a alegria continua brotando como fonte de água pura e límpida. São 37 ministérios, 11 mulheres e temos negras, nordestinas, indígenas, jovens, maduras, mulheres de luta e de paz, que nos representam e orgulham. Estamos saboreando com prazer a felicidade da representatividade.
Nestes dias a cada posse, a cada discurso, nos emocionamos e choramos e nos abraçamos com a fé de que ainda há esperança.
E só agora eu consigo mensurar o tamanho da dor em que eu estava afogada.
Nestes últimos anos não havia "viver", tudo foi resistência e sobrevivência, sobreviver e resistir, resistir e sobreviver... Estava tudo em um motocontínuo de horror que não havia tempo nem condição de analisar a profundidade do desespero.
Minha avó faleceu, saí do trabalho para virar cuidadora em tempo integral de uma mãe com necessidades especiais, o mundo virou de cabeça para baixo, meu país afundou nas trevas, tive câncer, me tratei e fiz a cirurgia no meio de uma pandemia, descobri que sou uma trapezista sem rede de proteção, entendi que grande parte da beleza das coisas que eu via estava apenas no meu olhar e que as pessoas não são tão bacanas quanto eu imaginava, tive que aprender a calar, tive que aprender a dizer adeus e tive que aceitar e exercitar o deixar partir... Chorei no meu próprio ombro, apertei minha própria mão, deitei no meu colo e me jurei amor eterno. Entendi que meu maior amor sou eu. Chorei quieta e lutei calada. Dei muito adeus.
Mas quando Lula subiu aquela rampa de braços dados com aquelas pessoas, e quando anunciou os ministérios e a cada discurso que assisti, uma luz acendeu. Fui tomada por um sentimento que eu não tinha há mais de 3mil dias: esperança.
Por seis meses eu passei por diversas sessões de quimioterapia, e a cada dia sentada naquela cadeira quando o remédio começava ser aplicado eu conversava com ele, com o meu corpo e com deus, e combinava com eles que tudo precisava dar certo porque eu ainda tinha algo a realizar: eu precisava plantar uma floresta numa determinada região que foi destruída pela mineração. Repeti este mantra até o remédio, o meu corpo e deus ficarem de saco cheio da minha ladainha. Por fim meu corpo se curou, o remédio foi dispensado e deus me guardou este presente e esta injeção de ânimo e de esperança.
Agora é agradecer, ficar maravilhada, arregaçar as mangas e trabalhar neste tempo de união e reconstrução e focar em cumprir o projeto na parceria que fiz com deus.
Estou viva, vi Raoni (90 anos) dizer o quanto está feliz por subir a rampa e que lutará, vi Marina Silva voltar ao Ministério do Meio Ambiente, vi Silvio Almeida se tornar Ministro dos Direitos Humanos, vi Sonia Guajajara e Joenia Wapichana se tornarem Ministra dos Povos Indígenas e Presidente da Funai.
Estou viva e sinto esperança. Estou saudável e tenho uma floresta para plantar.
Tenho 52 anos e aprendi que grande parte da beleza das coisas que vejo está no meu olhar.
Quero olhar muito para estes tão esperados dias de glória. Dias de união e reconstrução.

11 agosto 2022

Vai Passar

 


Nasci no ano de 1970 sob um regime militar ditatorial sanguinário. Sou filha de uma mistura baiana/mineira abolicionista libertária que jamais aceitou desaforo nem grilhão.
Cresci aprendendo diariamente o que era a luta, li muito, estudei sempre para saber o que dizer quando gritar e aproveitar cada oportunidade de não calar. Tudo que pulsava naqueles tempos pedia por liberdade e direitos.
Em 1984 eu já participava de movimento de estudantes pela ecologia, cultura e saúde. Atuei na arborização do bairro, no movimento antimanicomial e por fim pelas Eleições Diretas para Presidente.
Fui para os comícios, gritei, fiz camiseta, carreguei bandeira, falei por infinitas horas em cada orelha temerosa que me deu atenção.
Quando a tal Abertura Política se deu, eu já estava afundada nela até o pescoço.
Assisti ao Colégio Eleitoral eleger indiretamente Tancredo Neves para presidente, e também seu enterro, deixando José Sarney sentado na cadeira presidencial.
Entrei para o Movimento Estudantil, fui uma das fundadoras do primeiro Grêmio Livre Estudantil abertos no final da ditadura. Quando se formou a Assembleia Constituinte para formular e organizar a Constituição de 1988, tratei de me juntar aos movimentos populares na criação de sugestões de leis para a nova constituição.
Fiz trabalho voluntário em mutirões de construção de casas populares e plantio de hortas urbanas para divulgação da proposta de Agricultura Orgânica.
Quando Ulisses Guimarães fez o discurso de promulgação da Constituição de 1988, chorei com a emoção daqueles que entendem o valor da participação na história de uma nação. Me sentia um ser político.
Já estava na universidade quando o então Presidente Fernando Collor de Melo quase afundou este país e lá fui eu de novo para as ruas lutar por seu impeachment. Outra vez o Vice ficava com a cadeira vaga. Por muitas vezes me envergonhei por ter Itamar Franco como presidente do meu país (mal sabia eu tudo o que estaria porvir...). Assisti sem entusiasmo as eleições de Fernando Henrique Cardoso e passei a empenhar minha energia cidadã nos movimentos sociais e ambiental.
Fiquei feliz quando Lula se elegeu, cheguei a cultivar esperanças... Minhas expectativas eram grandes mas os dois mandatos de Lula não puderam alcançá-las. Quando Dilma foi eleita, o meu ser político já não tinha mais a mesma tenacidade, a descrença já havia se instaurado com sucesso. Ainda assim quando se estabeleceu a ameaça de golpe, lá fui eu novamente para as ruas bradar a minha contrariedade ! De nada adiantou. Mais uma vez, estava eu estupefata diante de um Congresso bradando idiotices e bravatas, esfregando na cara de uma nação que o voto do povo significava absolutamente nada.
Não tenho palavras para descrever o que senti ao ver aquela mulher ser traída, expulsa de seu lugar por direito por um comboio de abutres sedentos por dinheiro e poder. Serei sempre solidária à Dilma. Não concordava com ela, não depositava sobre ela nenhuma expectativa, mas jamais concordarei com o que fizeram com seu mandato e seu direito de representante eleita pelo povo. Dilma foi gigante ao enfrentar aquela corja.
Em 2013 fui para a rua expressar minha indignação com a situação do país, apanhei muito da Polícia Militar, me bateram em frente à Igreja da Consolação, para todo lado que eu olhava eu via pessoas comuns, estudantes, pais, idosos, cidadãos apanhando de seus funcionários responsáveis por sua segurança. Ali eu achei que não dava mais para o meu ser combativo.
Eu já havia apanhado bastante em outras situações de manifestações, mas nunca com tamanha truculência, não era apenas para manter a ordem e a segurança pública, era a maldade no olho do algoz, era novamente o torturador fardado. O Geraldo autorizou o uso da força e a PM não o decepcionou.
Tiro, porrada e bomba.
Em 2016, quando os estudantes ocuparam as escolas, lá fui eu apoiar e pra variar novo encontro com a PM do Geraldo. Jamais esquecerei Geraldo, jamais. Inclusive a reunião com o Odilo para se "aconselhar" em usar a PM para invadir as escolas ocupadas pelos estudantes. Jamais esquecerei viu Geraldo, viu Odilo!
Quando fui dar meu apoio à Dilma, ainda estava fresca a memória das pancadas de 2013. Me preservei mais, já tinha um brotamento de uma sensação de que talvez esta luta não estava valendo tanto sangue e dor...
Daí em diante foi só ladeira abaixo...
Políticos correndo para todo lado com suas malas de dinheiro desviado, escutas telefônicas revelando quadrilhas de corruptos infiltrados em cada fresta das paredes das casas do poder.
As leis enfraquecendo, as maracutaias se agigantando e mostrando a cara em plena luz do dia e por fim
a caça ao Lula afogado sob uma tempestade de acusações pré fabricadas com um intuito único e exclusivo de afastá-lo do próximo pleito eleitoral. Um circo. As leis viraram um teatro de fantoches, o magistrado virou uma vergonha cotidiana e no horizonte se levantava uma nuvem cinzenta das próximas eleições...
2018, lá estava eu novamente, vestida de roxo marchando bravamente e gritando a plenos pulmões ELE NÃO !, tentando evitar inutilmente a eleição do pior ser humano que certamente brotou deste chão chamado Jair Messias cujo nome me dá enjoo ao ser mencionado. Este ser que não merece ser descrito é um destruidor potencial. Nada nele cria ou prospera, é possuidor de tamanha ignorância e falta de sabedoria que só a maldade e a covardia conseguem lhe fazer chão. A História se encarregará de dar a este homem o seu devido lugar entre os estúpidos e ridículos tiranos. Por sua vontade e ignorância mais de 680 mil vidas foram perdidas por não termos vacinas de Covid a tempo de evitar a tragédia desta pandemia. Outras tantas vidas se foram por fome, ódio, preconceito, tragédias ambientais evitáveis...
2022, estamos novamente às vésperas de eleições e faz 4 anos que esse Presidente só faz profanar as urnas e o sistema eleitoral do país, vocifera mentiras ininterruptamente numa tentativa de torná-las verdades, não houve um só dia de sossego, insufla ódio, premia os malfeitores, ofende, desrespeita, debocha.
Numa tentativa de repetir a técnica de Donald Trump contra a democracia americana, que por sinal não funcionou, mas custou a vida de várias pessoas, por aqui o tal Jair vem num constante processo de atacar a legitimidade do sistema eleitoral e sinaliza que não aceitará o resultado das urnas em ameaça direta ao sistema democrático de direito. Ninguém aguenta mais, recessão, desemprego, inflação, fome, preconceito de todos os tipos, violência, desrespeito de toda ordem : cultural, de gênero, de raça, de religião. Hoje dia 11/08/2022 foi lida em 13 estados da federação, uma carta em que a sociedade brasileira se manifesta firme no propósito da defesa do sistema democrático de direito e na confiança ao sistema eleitoral deste país. Patrões, empregados, homens, mulheres, lgbtqia+, estudantes, negros, indígenas, brancos, cidadãos e cidadãs unidos para exclamarem a quem interessar possa que apesar de quietos estamos atentos e não vai ser sem luta. No pátio da Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo, na manhã de hoje, chorei ao ouvir a estudante ler seu discurso avisando que os jovens não aceitarão retrocessos. Hoje a jovem Manuela falou tão lindo e forte que a menina que um dia fui lá no ano de 1984 ouviu e se emocionou. Falaram mulheres negras e brancas, uma filha de Oxum, e lá estavam para ouvir guerreiros de todos os tempos deste chão. Até o momento são quase um milhão de assinaturas apenas nesta carta. E são várias cartas. O Presidente mais uma vez debocha e chama o manifesto de "cartinha". Claro, não vai assinar, é contra, prefere homenagear e dar louros a bandidos e torturadores.
Eu estou aqui, viva, sem muita esperança de futuros, mas confortada em saber que tenho 52 anos, jamais fugi da luta, que sinto que estou assentada do lado certo da luta por justiça e direitos equalitários para toda a gente desta terra onde nasci.
Já não tenho expectativas ou esperanças político partidárias, nem mesmo acho que os problemas deste país se resolverão em tão breve, mas dentro do meu peito há um calor quentinho em saber que tudo isto VAI PASSAR !




31 dezembro 2020

O mundo acabou e o inferno é aqui

 
Último dia de 2020, um ano infernal para se resumir.
PANDEMIA. Um Corona vírus, Sarscov 19, mais conhecido como Covid, já deu a volta no planeta inteiro várias vezes e apresenta mutações altamente contagiosas. Em um ano tudo mudou.
Trancados, desempregados e desesperados. Eu e boa parte das pessoas que conheço.
O Presidente é um doido de pedra, a incompetência é a marca de seu governo, e hoje já sâo 192.000 mortos. Nada de vacina por aqui, enquanto na Europa já se aplica a segunda dose.
Perdemos muita gente linda e boa, artistas, pensadores, jornalistas, pessoas de quem precisávamos para a construção de um novo tempo. Se foram.
Tudo está muito louco, feminicídios aos montes, radicais de todos os lados invocando seus mais profundos ódios, quase 30 crianças mortas pela polícia, vários crimes bárbaros cometidos por conta de racismo.
Tá todo mundo doido !
Em Agosto, descobri que fui invadida por um câncer de mama.
Acho que tudo já está tão surreal que nem consegui me abalar. Sério, do fundo do meu coração, estou tranquila (ou anestesiada, sei lá). Tenho cá pra mim que enfrentar este câncer será como atravessar um portal, preciso mudar minha vida, do jeito que está nâo é mais viável. Quatro anos trancada dentro desta casa, cuidando 24 horas por dia de uma pessoa cujo único objetivo na vida é ver a vida passar sem que ela precise fazer absolutamente nada.
Nâo é possível amar na escravidão.
Não nasci com personalidade que me permita ser escrava de ninguém.
Toda a minha capacidade de resiliência se esgotou.
Se é para eu sobreviver a este câncer, eu quero minha vida de volta.
Sinto muito pela minha mãe que esperava que eu fosse sua escrava até o fim dos meus dias, não serei.
Eu dei 5 anos e toda a saúde que eu tinha.
Agora é hora de me recriar. 2021 será o ano para cuidar de mim.
Só poderei trabalhar em 2022, e isso é outro absurdo.
O ano nem começou, e para mim já está com ingressos esgotados.
Mas também teve algo revolucionário: em Setembro comprei um Ukulele e estou aprendendo tocar sozinha, com o atrevimento e a obstinação que me são característicos.
Plantei algumas árvores, vi milhares de filmes, e passei todo o nervoso que é possível um ser humano passar sem ter um AVC.
No geral se eu morrer está tudo ok, tô de boa com a existência.
Falei com quem tinha que falar, viajei sempre que pude, não tenho nada pendente pra resolver com ninguém. Tem aquele moço que não me quer mas não me larga, mas no fundo, no fundo, bem lá no fundo, eu sempre soube que não daria em nada, então também com isso eu estou tranquila, amor não correspondido é uma droga voraz, mas também é possível largar, a fase da abstinência dói pra caramba, mas é altamente pedagógica.
Se eu sobreviver vou me dedicar à ir embora morar na montanha, reflorestar uma certa pedreira e tocar muitas canções para os passarinhos.
Vou lutar para estar viva e livre.
Sinto muito pelos outros, mas chegou o tempo de lutar por mim.



09 maio 2020

Jubileu


Na noite que o 50 chegou, eu estou só.
Exatamente como naquele primeiro dia em que me tiraram a ferro.
Novamente é véspera do Dia das mães.
Ela desde sempre preferiu dormir e não participar.
O meu papel de coadjuvante fora acordado sem que me consultassem.
Erro crasso, estraguei o projeto na largada.
Agora é 2020, o mundo virou do avesso por conta de uma epidemia mundial, Covid 19. Todos trancados em casa (em tese, muita gente horrível nas ruas, sem máscaras), o medo da morte (deles), os piores sentimentos aflorados...
No Brasil um fascista está no poder, espalha ódio e ignorância por onde passa e metade do país o abençoa com grunhidos de porcos a caminho do abatedouro. Bestas desumanas.
Os valores foram invertidos: mulheres amamentando são chamadas de imorais, afirmam categoricamente que a Terra é plana como uma pizza, contestam a ciência, pregam um Cristo que recebe via cartão de crédito e discrimina qualquer diferença da liberal classe média machista racista xenófoba.
Estou trancada em casa faz quatro anos. Não tenho um emprego, virei escrava do lar. Cuido d'Ela cuspindo fel, enquanto ela se faz de besta e regozija.
Não estou feliz, nem saudável. 
E não me dão a caridade de ser ouvida quando tento reclamar, pois afirmam que Deus está vendo meu esforço e minha bondade em servir por vontade própria 24 horas por dia, por amor a Ela. Além do mais tenho comida e um teto onde me abrigar. É unânime: devo ser escravizada e me sentir feliz pois serei recompensada lá no céu quando eu morrer.
Alguns dizem que sentirei saudades destes dias.
Ou eles estão loucos ou eu estou, e nem percebi.
Algumas coisas foram boas, a ausência de dinheiro me fez aprender o minimalismo, o consumo deixou de ser prazer, passei a usar todas as coisas que acumulei ao longo dos tempos, aprendi a aceitar e defender meus limites, e agora consigo verbalizar e sinalizar quando me sinto desrespeitada.
Não sou mais Terra de Ninguém.
Agora não reviro minhas tripas tentando agradar e ser aceita por quem quer que seja.
Aprendi enfim que o amor da minha vida sou eu.
E passei a tratar meu corpo com carinho, ele têm sido antes de tudo um forte, nordestina carne amiga.
O coração ainda é burro tadinho,um iludido, fica tentando façanhas infrutíferas: ama quem não me quer, ama quem só vê a si mesmo, ou ressuscita fantasmas que o vento levou... O melhor é não dar muita atenção...
Não há uma só esperança olhando daqui até o horizonte, nenhuma perspectiva de futuro. Crise mundial, desemprego mundial, epidemia mundial.
Se Ela me faltar não tenho nenhum dinheiro para sobreviver já na manhã seguinte, prognóstico : moradora de rua.
Tenho barraca, saco de dormir, mochila e carrinho de bagagem, tenho também uma bicicleta. Pelo menos posso sair por aí, sem destino.
Por conta da epidemia, tenho conversado com pessoas, acho bacana não deixar nada por dizer, se morrer vou leve.
Ontem o meu igual me procurou, apesar das falas repetidas de nosso teatro particular, foi bom poder falar e ouvir com serenidade de nosso laço imaginário que já beira os 33 anos. Dá conforto saber ter morada na memória de alguém.
Nós realmente somos um, mesmo não sendo e sabemos disso. Amo essa liberdade de sermos sem estarmos.
50 anos. Jamais imaginei. Jurava que não chegaria aos 40.
Agora eu desenho, faço coisas em madeira, costuro, aprendi a tricotar de verdade, sei reformar uma casa todinha, morei em vários lugares, plantei centenas de árvores, instalei bibliotecas virtuais em três quimioterapias infantis, ajudei a alfabetizar pessoas, trabalhei com idosos, com população em condição de rua, com mulheres vítimas de violência. Plantei hortas com trabalhadores, criei brinquedos com crianças, ensinei cuidar da água, da terra, do lixo.
Subi montanhas, mergulhei em cavernas, atravessei continentes, tomei duas anestesias gerais, fiz duas cirurgias, voei, nadei. Casei 4 vezes. Declarei todos os meus amores. Passei vontade, passei vergonha, passei nervoso.
Enfrentei o medo até ele desaparecer.
Parei de alimentar os monstros.
Me sinto bastante diferente. Tão diferente que a inadequação pode ser vista da Lua.
Meu maior desejo hoje é o isolamento. Uma casinha pequenina construída com as minhas mãos, lá no pé daquela montanha. Jardim, horta, pomar, caramanchão atelier. Eu, os bichos e a roça.
É noite de Jubileu, estou só, como naquele primeiro dia.
Anteontem foi Lua de Wesak. Eu me sinto bem iluminada.
Miguel continua comigo, faz uma graça, prega uma peça, ontem mesmo apagou um texto enorme em que eu descia a lenha na Humanidade. Acho que era forte demais para os mortais, huahuahuahuahuahuahua, ele deletou, fiquei brava na hora, depois ri com ele, caçoando da minha cara.
Durante toda a vida me chamaram de louca, sempre odiei, sempre me achei realista e lúcida.
Agora depois de quatro anos de claustro, suspeito que endoidei. Mas essa doidêra dá uma serenidade boa, que antes eu não tinha. Hoje eu faço 50 anos e a única coisa que sinto é que me basto.

30 julho 2019

O mundo virou.


Voltei dois anos depois. Não porque esteja feliz, ao contrário voltei para dar relato histórico.
Um dia dormimos e acordamos em um pesadelo.
Em 2019, o mundo todo apresenta tendências extremistas de direita, cresce o racismo, os preconceitos, e os movimentos contrários à barbárie parecem ineficazes.
No Brasil, a situação é: um presidente homofóbico, xenófobo, suspeito de ligações com milicianos e que quase que diariamente profere ofensas e impropérios em plena rede nacional. Seus apoiadores vomitam ódio. Nas redes sociais robôs compartilham freneticamente posts e tweets fazendo apologia ao ódio e violência.
Gente matando gente. Morrem mulheres, negros e índios estourando os índices da brutalidade. Estamos cercados de estupidez e ignorância.
Ameaças, injustiças e queda da constituição e dos valores éticos e morais. Declararam guerra à Ciência e tentam desmantelar tudo o que foi conquistado em décadas de esforço e dedicação. Declararam a ignorância como forma de dominação.
Eu me desespero. Vejo o noticiário e choro copiosamente.
Não tenho nenhuma perspectiva de futuro. Também não sou um ser que alimenta esperanças.
Me sinto deprimida, triste e só, entretanto não me sinto frágil, sinto exatamente o oposto, tenho ganas de raiva e vingança. Assisto horrorizada brotar em mim algo que ri com sarcasmo e deseja o que há de pior para aqueles que são responsáveis por esta tragédia.
Elegeram o novo Hitler, merecem se afogar na própria bile.
Sou só lágrimas e horror.
Não me reconheço.

11 agosto 2017

Sim, chegou o dia, acordei VELHA


 É tanta coisa que acontece, tanta água por baixo da ponte, aqui onde passava boi e passava a boiada... Tanta coisa que a gente acaba se distraindo e quando percebe: tchanannn, tá lá !!!
Nasci num corpo fêmea que menstruou aos 13 anos de idade, até aí tudo ok, era mais ou menos a média de idade naqueles tempos... Trinta e tantos anos depois, a tal visita mensal passou a falhar, e  começaram surgir os calores que sente quem dá uma dentada numa pimenta e enxagua com um golão de cachaça... Do dia pra noite aquela pele que era úmida e um tanto oleosa, seca e ganha uma aparência de película texturizada de cristal triturado no liquidificador.
Que maluca a natureza transformer.
Tenho 47 anos.
Nem na adolescência assisti meu corpo mudar tanto.
Mesmo pedalando, os músculos estão sumindo, tão engraçado este processo de encolhimento...
Alice, lagarta, borboleta !
É quase divertido descobrir o que mudará hoje, amanhã...
Do lado de dentro continuo com 9 anos jurando que sou a poderosa Ísis.
Tenho quase certeza que sou.
Cuido bem desta carcaça, mas já é bem perceptível o início do processo de decomposição.
Acho que é à partir daqui que as loucas por estética começam o processo de mumificação, huahuahuahuahuahuahuahua...
Tô fora, por favor não o façam nem depois de morta, sou adepta a reciclagem.

09 fevereiro 2015

Caiu na rede...


Ah como me apaixonei louca e intensamente nesta tal de internet.
Amores 100% platônicos, impossíveis, irrealizáveis e efêmeros...
Como era bom amar sem saber se estava amando o criador ou a criatura, desconhecendo totalmente o sexo, a idade, gênero ou estado civil dos seres amados...
Amar um nickname, uma pasta de músicas , uma coleção de imagens...
Afogar se em tesão livre de forma. Gente sem corpo, ereção de ideias rolando livre pelas tardes no trabalho ou na rapina das madrugadas de insônia fingida...
Afagar poesias, bolinar palavras silenciosas que se esfregavam nas pontas dos dedos roçando o 

 teclado.
Deliciosos amores proibidos.
Amei muitos de vocês assim, seres que entraram em minha vida por esta tela, vindos de mundos paralelos, dimensões vizinhas, territórios não explorados, tempo espaço distantes ou não...
Vocês hoje têm cara e corpo, muitos romperam a barreira da tela e se tornaram carne e osso, mas confesso, sou tarada mesmo por suas almas...
Eu os amo abusando completamente dos limites e da liberdade da licença poética.
Eu os devoro, num canibalismo insano que nem regurgita para não ter que perder nada.
Eu lhes sugo a seiva com sede de buraco negro.
Quero nem saber, aqui o magnetismo é grande, a temperatura é alta, o tempêro é forte e o perigo é medonho e iminente.
Nunca precisei de conivência ou autorização.
Aqui é assim, caiu na rede é Love !

09 novembro 2014

Ahhh este coqueiro que dá Coco... Gabrielle, sempre Gabrieeeeeelle...


1970, num subúrbio tropical, em um sábado à tarde outonal, nasce mais uma exótica criatura estranha no ninho... A pequena baiana gostava de umas coisas bem diferentes, foi crescendo meio moleque, bocuda, vestia roupa de menino e era dada a jogar futebol, lia uns livros esquisitos, cantava e dançava quando e onde tinha vontade. Chamavam-na de maluca, pirada, doidinha... Sempre falou o que pensava, e assumia, segurava o tranco e se bancava. Invocada, botava banca de valente.
Calça preta, camiseta listada, um sapato preto com solado plataforma era certeza de estar linda e poder dominar o mundo, enquanto passava ouvia a piada: Ei Irmão Metralha, fugiu da cadeia ?
Sobre seus vestidos pretos sempre ouvia: Querida, você parece uma viúva com este vestido reto e este colarzinho de velha !!!
O tempo foi passando, e aos poucos a pequena baiana foi descobrindo que aquela estranheza que sentia chamava bom gosto e que aquela alma que lhe rondava desde o berço, era de uma certa Mademoiselle...
Quando tornou-se mulher feita, passou a "dar banana" para os ignorantes, e hoje desfila absoluta enrolada nas diversas voltas de suas pérolas falsas...
Obrigada por me tirar do limbo, antes mesmo de saber que ele existia.
Merci beaucoup Coco Chanel !
Arretadas seguimos juntas, tecendo realidades e vestindo sonhos.

17 fevereiro 2014

A Beleza


Olho lambedor. Olho viciado. Olho que de tudo quer saber do gosto e do cheiro. Olho desavergonhado, maleducado, que penetra detalhes, invade entranhas... Olho sertanejo.
"Se eu tenho olho, é pra reparar" já dizia Zé Maria, o avô...
Ela olhava mesmo, sem dó e com coragem. E desfrutava desse gozo de prazer.
O gosto do feio e o gosto do bonito sem nem sempre saber dizer qual era qual. Olhava com grandeza.
Olhava no espelho e queria ser bela, contudo se só pudesse fazer um pedido, preferiria ser forte... Ser forte era mais importante! Não negava a raça.
Ser bonita lá tinha pouca valia, servia pra quê, pra arranjar um marido, e depois ? Ser forte nem de marido precisava, dava conta da vida sozinha, sem tem ninguém pra botar cabresto. Não fora feita pra aceitar arreio.
De começo só usava roupa clara, era mesmo pra não chamar atenção, mas tinha o riso frouxo, gostava de gracejar e nem dava cinco minutos de relógio e já estava no meio da roda. Aquela mulher só faltava ter bigode, sua Tia Zilda tinha, e todos sabem: Mulher de bigode nem o Diabo pode !!!
Com o tempo o olho foi desgostando e exigindo mudança. Olho de voz grossa foi logo pedindo: Eu quero é cor !!! O resto do corpo entendeu tudinho. E acatou. E então se sucedeu algo grandioso, o surgimento da IDENTIDADE.
Guimarães Rosa disse:" O sertão está em qualquer parte, o sertão está dentro da gente. "
Era isso, aquele olho sertanejo, olho caatingueiro teve o asfalto como berço mas não negara sua raça. Aquele olho ensinou para aquele corpo o que era a SUA beleza. Aquele olho arredou a cortina e deixou a luz entrar naquela alma.
Aquele olhar, preguiçoso e bolinador, contou que não existe quando nem onde, o importante é ser.
Olho de sapo, olho de boi, olho de peixe, olho de cachorro pidão, olho MEU.
Olho EU !!!
Olho terrível ! Olho que vê até o que ainda nem existe...
Olhar grandioso. Agora eu sei onde está a beleza.

Ariano Suassuna diz: “ A beleza da zona da mata é ligada ao gracioso; a beleza do sertão é ligada ao grandioso. O sertão é grandioso e terrível em certos momentos, o que dá à beleza dele uma conotação muito diferente, muito estranha mas muito forte.”

14 fevereiro 2014

Coração Plural



Quem me conhece sabe: Amo. Se você foi um deles, fique feliz. Se foi muito importante: tá aí a homenagem. Se não está na lista: ainda é tempo, tente outra vez. Se vc só assistiu: divirta-se identificando os personagens no resumo. Se vc acha um absurdo: pegue a senha. Se vc é fofoqueiro: aproveite a deixa e avise a imprensa.

Coração Plural

Sim, amo
Continuo ainda amando todos eles
E os amarei sempre
Cada qual em seu tempo espaço
Penso sempre em cada um
Como quem rega a planta
Sonhando com vida longa, flores e frutos
Penso naquele que me contava desenhos animados,
e no quase primo tão proibido,
o príncipe loiro da sétima série,
e o tímido dono do primeiro beijo.
Amo muito e continuarei amando
meu muso cacau e o beijo depois da canção,
o shogun de coração valente,
e apesar de tudo também amo aquele
que duas vezes me destruiu, por não entender
que a tigresa pode ser escorpião e fenix
quando nasce taurina e camaleoa
Amo com doçura de mel
O terno abutre a quem dei minha carne,
o carinhoso Obaluaê que me cura,
o maluco beleza que do céu me guarda,
e o físico canhoto que do espaço me guia
Amo o gigante menino que me jogou no buraco escuro
E o demônio de cabelo enrolado, onipresente
Que tantas vezes me levou pra passear no inferno.
Amo-os todos
Amores de um dia, de verão, de viagem
Os permitidos e os proibidos
Amo muito e declaro
Amo muito e nego
Amo amar, o amor e vocês
mas sobretudo amo a mim
Que fiz meus dias incríveis, minhas histórias únicas
E ainda de quebra
Num cisco de tempo
Joguei baldes de uma tinta baiana e colorida
Na vida de vocês.
Recebam esta homenagem.
E aceitem: Este coração é plural.

(originalmente escrito em 13/10/2013)