13 março 2002

O macho


Sempre tive mais amigos que amigas. Nasci numa família baiana, que só começa se preocupar com as meninas, quandos os peitos aparecem na camiseta.Lá em casa o nu é comum, sabemos minha vó frente e verso, e sabia meu vô também. Mesmo assim produzimos alguns machos. Também tenho amigos machos.É comum, me sentar no boteco, pra uma cerveja com os frequentadores do estabelecimento, e ouvir elogios, dizendo que sou "diferente", que conversar comigo é mais simples do que com suas mulheres, filhas, namoradas ou mães. É para eles muito agradável poder obter informações de um universo feminino que eles sequer sonham existir. Me veêm como mais um macho no balcão.Daí liberam suas pérolas, que os direitos são iguais( mas o lugar da mulher deles é em casa), que mulher reclama de tudo (como se no botequim eles não reclamassem até da alma das ditas cujas), entre outras tantas. Mas o que me deixa mesmo indignada, é ver a mudança de comportamento dos sujeitos, no intervalo paquera-conquista-aquisição.
Já dei ombro pra amigo chorar de paixão, já segurei amigo pra não se matar por amor, já vi amigo alugando barriga de namorada grávida pra não abortar. HOMENS AMANDO. Neste momento eles esquecem o código de macho, e se entregam aos sentimentos como um ser humano qualquer.
Daí, a moça, diante daquela prova suprema de humanidade, acredita por um só momento que "aquele" homem merece o seu amor, que se ele foi capaz de gestos tão ternos, será capaz, de junto dela, levar aquele sentimento através de ares e mares.
O tempo de duração deste período varia, mas o período seguinte é sempre o mesmo. Volta-se ao balcão, a cerveja, o papo com a amiga (euzinha) e o apelo genético fala mais alto. Geralmente eles não acreditam que foram capazes de tais atos, e pouco a pouco o desapaixonado volta ao discurso anterior.
E aquela mulher que por um tempo foi perfeita, passa a apresentar alguns defeitos.E a energia gasta na conquista fica perdida por aí, e nem eu que vi com os meus próprios olhos a mudança de comportamento do sujeito, posso crêr que Cinderela realmente existe. O cara vira uma abóbora ali na minha frente.
E a fulana que tá em casa esperando o cara chegar do trabalho, muitas vezes com o jantar pronto, muitas vezes perfumada, não sabe que o cara faz hora no boteco, pra atrasar sua volta ao lar.
Cá entre nós, né meus filhos, e depois mulher é que é complicada ? Tem dó !

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