Orelhão
Que atire a primeira pedra, quem nunca ficou com a orelha encaixada em plena conversa alheia. No meu caso, encaixei logo a cara inteira. Comecei prestar atenção, porque um moço desabafava com um amigo as mazelas de sua vida. O interessante é que ele descrevia fatos absurdamente iguais aos da MINHA vida. Irritantemente iguais. Eram minhas, as palavras saídas da boca do rapaz. Me aproximei para ouvir melhor. Ficamos lado a lado. E a cada cena fui ficando mais angustiada... Será que minha vida é tão comum a ponto de ser vivida por outra pessoa ? E meus argumentos ? Mas o mais interessante, foi observar as reações, que eu julgava tão femininas, vindas de um rapagão. Ele pensa como eu. Eu sinto como ele. Irresistível, me intrometi. Pedi desculpas pela indiscrição, e me enfiei no meio da conversa. Que maluquice. Trocamos comentários, discutimos experiências e quando nos despedimos, saí rindo sozinha... Meus monstros cabeludos não são só meus, são como os gatos que se dividem para vários donos. Bom saber, não perco mais tempo alimentando-os...
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