16 junho 2004
O Menino Congelado
Todos os dias o trem me leva ao trabalho.Cinema cotidiano. Retratos de uma cidade que não aparece nos jornais. Ruínas, favelas, o império daqueles que vivem à margem de.
Uma cidade escondida, a Babilônia classe D.
O trem passa por duas Universidades, que agora eclodem como insetos a cada semestre. No banco a minha frente, vejo o menino congelado. Roupas com estilo, cabelo preparado, sobre o colo uma mochila na qual ele apoia um questionário. Concentrado demora a escrever, dorme. Lápis na mão apoiado sobre o texto, com aquela cara de quem busca a resposta no fundo da alma. Cochila. Pelo horário, deve ter acabado de sair do trabalho, exausto. Precisa ser forte. Não pode dormir, precisa terminar a tarefa. Quando o sinal do trem anuncia a estação ele acorda e se condena, mas não consegue evitar. Está gripado, mas não pode descansar. O desemprego o espreita, tem que se dedicar, sem dinheiro, não consegue estudar. Super menino. Não estuda direito, precisava dormir, mas não dá tempo. Tem que aguentar. Sem estudo não consegue trabalho... Eu também sonolenta, observo o menino sonhando uma outra ilusão. No sonho, ele mora num país de belas praias, lindas mulheres, um paraíso tropical, tão real, mas que talvez nunca possa desfrutar... Destino estranho o do menino congelado do trem. Dele e o de outros tantos meninos...
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