09 setembro 2005
"O dia em que virei minha mãe!!!" ou
"O ataque à mordida do caixa eletrônico..."
A gente sempre sabe quando algo está errado.
Cai um avião por dia.
Tragédias naturais por todos os lados.
Os caras que eu temia, hoje são barrigudos e dizem que não saem de casa por causa dos filhos.
Enfim, o mundo está acabando.
E atrasou.
Jamais nos meus sonhos mais exóticos eu imaginaria ser atacada por um caixa eletronico do Banco do Brasil, mas pasmem: isso aconteceu.
Eu, uma pobre pessoa inocente precisando de dinheiro cometi a loucura de enfiar o meu cartão e digitar corretamente todos os dados que me foram solicitados e o que recebo em troca ? Uma mordida.
É, vê se pode ? É o final dos tempos...
Me abocanhou ameaçadora, banguela, e não trazia meu dinheiro pendurado.Mordeu mesmo, sem dó, nem tive como me defender.Fiquei ali, indignada, ferida e pobre.
Não sou mulher de me abater frente as dificuldades da vida.Dei as costas aquele ser tão raivoso,fui a outro caixa mais manso, tirei meu dinheiro e saí filosófica...
Na medida do possível, já estava quase me recuperando do trauma, quando hoje fui renovar minha carteira de habilitação. A moça pediu uma foto para o documento ( eu, a trouxa, achando que a tecnologia scan já havia chegado à repartição pública, huahuahuahuahuahua, ilusão), entrei na máquina, obedeci aos comandos e quando saio de lá a moça opera um verdadeiro milagre. Recebi perfeitamente cortadas seis fotos onde quem aparecia: minha mãe. Pois é, foi assim, ontem dormi eu, hoje acordei minha mãe. Agora posso compreender quando na rua me chamavam de senhora...Eu não tinha visto que virei minha mãe. E o pior é que nós nunca nem nos parecemos...Eu estava tranquila quando observava minha avó e via: é assim que vou ficar... Mas não.Virei minha mãe.Agora não sei o que fazer.
Enfim, o mundo está acabando.
06 setembro 2005
Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores,
cores que não sei o nome,
cores de Almodovar,
cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro,
eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele,
um calo,
uma casca,
uma cápsula protetora,
eu quero chegar antes,
pra sinalizar o estar de cada coisa,
filtrar seus graus.
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
e vendo doer a fome dos meninos que tem fome
Pela janela do quarto,
pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela ?
quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle
Eu ando pelo mundo
e os automoveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Trânsito entre dois lados,
de um lado eu gosto de opostos,
exponho meu modo,
me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos,cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei,
não tem ninguém ao lado.
Adriana Calcanhoto - Esquadros
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