29 junho 2007

Por que só os bons, por que???



Tava eu aqui no meio da obra quando a Ana me dá a notícia: o Armando morreu.
Como??? Por que ??? Quando ???
Com tanta gente inútil superpovoando este planeta, por que precisa morrer um dos bons ???
Artista, coração e bondade, alegria de menino, mais um desses caras maravilhosos que se escondem no meio do povo disfarçando, fingindo que é só mais um. Não é.
Qualquer ser noturno dessa Babilônia já cruzou com o Armando e seus fantásticos bonecos pelos bares e madrugadas. Um abraço amigo, uma flautinha marota e aquela impressão de que a vida é realmente boa.
Como assim noites sem Armando ???
Não dá.
Eu e meus Zé Celsos estamos inconsoláveis, o restos dos bichinhos se recolheram e ninguém quer saber de nada...
Ai que dor !!!
Esse choro que não consigo controlar nem a pau, esse desconsolo, o que fazer com isso???
Ah São Pedro mais triste...
Fechem as portas, apaguem as fogueiras, hoje não quero conversa...
Sou egoísta sim, vou sentir muito a falta desse moço da bicicleta, desse anjo humano sorridente e brincalhão.
E se Deus tem qualquer coisa a ver com isso, trata de ficar quietinho com a cara virada pra parede de joelho no milho até pagar pela idiotice que fez, não quero saber de chororô. Fez merda sim senhor!!! Tirar o Armando de nós é pior que bater na mãe. Coisa feia!!!
E se quem tem algo a ver com isso é a Vida, digo sem remorso : Ingrata, é isso que você é !!!
Que as coisas tenham começo, meio e fim eu até entendo, mas acabar com a brincadeira antes de chegar na metade é de péssimo gosto. Mimada, tu vida bandida, é uma menininha mimada !!!
Não se arranca da gente pessoas como o Armando. Isto não se faz.
INJUSTIÇA.
Deus, vida ou o raio que os parta, pra vocês hoje apenas uma enorme vaia seguida de luz apagada.


Pra você Armando, música e luz, e toda amizadade e eternidade de alma. A gente se tromba por aí meu lindo.


Esboço

Cara de palhaço
Pinta de boneco
Pula o tempo todo
Não dá nem uma parada
Parece até ligado
Na tomada
Todo emocionado
Com a própria brincadeira
Qualquer coisinha cai
Na choradeira
Uns dizem que é homem
Outros que é mulher
Dizem que é velho
Por isso pinta a cara
Pinta porque é moço
Pinta porque é velho
Pinta porque é macho
Pinta por capricho
Não é por nada disso
Não é homem, não é mulher
Ele é um bicho
E ele passeia, passeia
Passeia como se fosse um turista
E cumprimenta todo mundo
Que freqüenta a Bela Vista
E mesmo que ele esteja sem dinheiro
Dá uma passadinha nos botecos de Pinheiros
Chega com uma cara que dá pena
Mas é gente muito boa
Lá da Vila Madalena
Sempre sobra um copo de cerveja
Fica tão contente
Mas não quer que ninguém veja
Então procura o centro da cidade
Na Liberdade
Lá ele aparece algumas vezes
Lá os seus amigos são chineses
Canta umas canções em pot-pourri
E o pessoal morre de rir
E no fim da noite
Dá o último giro
No Bom Retiro
Meio delirante
Meio inconseqüente
Muito colorido
Um destaque na paisagem
É todo uma figura
Um personagem
Não adianta perder tempo
Desprezando a sua imagem
Pois nunca ele ligou
Pra essas bobagens
Corpo de moleque
Corpo de borracha
Todo amolecido
Dobra tudo
Nada racha
Dizem que é um esboço
Que é alguém de carne e osso
Dizem que é um colosso
Por dentro e por fora
É gente como a gente
A gente sente
Pois se aperta ela chora
E ele vagueia, vagueia
Vagueia como se fosse um cachorro
Avança, volta um pouco
Chegando até Socorro
Lá ele não conhece muita gente
Então pega a Marginal, o Jóquei Clube
E segue em frente
Gosta de entrar um pouco na USP
Gosta de sentir que é estudante
Mesmo que não estude ele embroma
Com tanta perfeição
Que sempre sai com um diploma
E vem pra casa então todo feliz
Em Vila Beatriz
Tem os seus horários de paquera
Tem o seu lugar no Ibirapuera
Tem o seu amor em Santo Amaro
Que ele encontra pelo faro
E tem um gosto muito próprio
E muito raro
Balança a cabeça
Mexe o coração
Passa pela Penha
Pela Lapa, pelo Brás
E já não sabe bem mais
O que faz
Todo envergonhado
Quando encontra uma criança
Perde o rebolado
Sempre dança
Tido como louco
Fala muito pouco
Pula, gesticula
Flexível, inquebrável
Vai ver que ele é amável
Vai ver, é provável
Vai ver que ele é uma fera
Vai ver que ele devora
Vai ver que cê chegando
Bem pertinho, dando um sopro
Ele evapora

(Luiz Tatit)

3 comentários:

MARCIO COLACIOPPO disse...

Em Nome da família quero lhe agradecer sinceramente pela sua brilhante homenagem ao Armando, Tenho certeza que ele lá do céu ficou muito feliz com você e com certeza sempre será nosso grande amigo

Muito Obrigado

Anônimo disse...

Estes dias estive pensando nele.
Apesar de o ter visto apenas uma vez na vida, junto com vc.

Um abraço, amiga.

Anônimo disse...

desculpe-me a intromissão no blog...mas conheci o Seu Armando bem no começo da história dos bichinhos...éramos praticamente vizinhos...e fiz uma crônica em homenagem O Mago dos Bonecos
http://cronicasavulsasdaeradosbraceletes.blogspot.com/
abraços
giba