30 outubro 2006

Viver dói



Um dia eu amei um homem leve.
E sempre dizia a ele que neste ponto eu o invejava.
Minha alma tem um peso de dor.
Talvez seja só esta tendência latina ao drama, mas é algo que não posso evitar, dói.
Não é como a melancolia argentina, é algo mais cruel, algo de navalha abrindo a carne, algo Carlos Saura, que sangra, mas que não deixa de bailar.
Não vejo beleza na dor, apenas sinto.
Por um lado, não a quero, pois põe uma névoa em meu sorriso, mas por outro não a nego, sei vir dela minha força. Ora, que abram as portas e que venha o touro, sou mais eu.
Pode não ser a melhor coisa que tenho, mas esta dor me trouxe até aqui. E me fez grande. Uma enorme mulher miúda, uma Frida.
E vi na tela, um filme alemão, que fazia desta minha dor, um confeito colorido de criança.
"O desejo liberado" de Matthias Glasner, sacudiu minha alma com tamanha violência, que por um segundo esqueci o peso dela.
A dor da impotência humana frente a fatos da vida é inominável. Viver é de uma crueldade doentia. Desesperadora.
Felicidade, é não ter experimentado este limite.
Em alguns momentos "não poder" é tão insuportável, que a morte se torna apenas um analgésico.
E se você permanecer vivo, saiba, nada mais vai ter a mesma cor diante dos seus olhos...

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