17 novembro 2006

Noites Quentes


Flor Garduño

Sou uma fêmea inseto.
Quando sopram as primeiras brisas mornas, sinto um estalar na base das minhas asas. Algo que começa a se manifestar, um pequeno incômodo, como uma coceira...
Daí vem as linfas... É como se o sangue começasse a fluir mais rapidamente, uma respiração diferente, uma lembrança de sufocamento...
É quando chegam os desejos !!!
Aquela gana que se espalha por tudo, pela luz, pelos cheiros, pelo som...
Uma ansiedade...
Então vem o chamado. Torna-se comum a sensação de que há algo vibrando do lado de fora, portanto é quase impossível suportar permanecer do lado de dentro.
Eu me deixo sair.
Parece o romper de um casulo. Minha alma pra fora, assim desnuda !!!
Vem uma consciência da leveza das coisas, tão forte, que me permite voar.
E eu vôo.
Pouso de flor em flor, me entorpeço ao redor das luzes quentes e hipnóticas, mergulho em líquidos, me debato em copos, mas sei o truque de como não me afogar neles...
Tenho ciência do fim...
Respeitar a natureza dos seres, fêmeas que são preparadas para reproduzir durante toda uma jornada esperam a temperatura subir para alçar seus vôos nupciais onde seguirão seu destino em busca do céus, do prazer, do gerar e morrer...
Darwin entenderia a "evolução" da minha espécie. Interrompendo uma das fases deste ciclo, seria possível mudar o final da história...
Como criatura decidi prolongar o vôo e o prazer, quem sabe um dia se eu cansar do verão ou achar voar um saco, ok, neste dia entro no ciclo do morrer...
Por enquanto ainda me mantenho fascinada pela luz, então eu vôo e vôo...

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