27 dezembro 2006
Mistérios de Amores
Cantadas por minha avó e minha mãe, as canções de Gonzagão entraram em minha memória como se fizessem parte de meu código genético.
A imagem do velho Lua até hoje me remete à imagem de meu avô, outro sertanejo raçudo, cabra macho sim senhor, de ignorância e delicadeza tão sublimes que os tornam pessoas de um poder pessoal indescritível.
O clássico em dia de festa era meu vô xaxando com minha vó pela sala sob os olhares orgulhosos e envaidecidos de seu povo. O Cantador era sempre Seu Lua.
Quando fui tomando ares de gente, e o gosto começando a brotar, me vi pêga por um moço, que parecia descrever meus sentimentos de menina como se me observasse escondido...
Era o filho do Homem. Gonzaguinha era como um príncipe de fala macia:
"Espere por mim morena, espere que eu chego já, o amor por você morenaaaa faz a saudade me apressar..."
Quando eu conheci o sexo nenhuma descrição foi mais clara do que :
"Nascendo, rompendo, tomando
Rasgando meu corpo e entao
Eu chorando, sofrendo,gostando,
Adorando, gritando
Feito louca alucinada e criança..."
Eu amava loucamente pai e filho.
Quando Lua se foi, valeu-me capítulo inteiro de dor e luto em meu diário de menina, quando Gonzaguinha se foi, me tornei viúva.
Ainda é pela boca de Gonzaguinha que me descrevo fêmea:
"Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira
Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho
Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também
E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé"
Ninguém descreveu melhor a mulher que trago em mim, nem Chico Buarque, que sabe tão bem das minhas entranhas. Gonzaguinha foi além.
E no dia de comprar presente de anivers pra Ana, trombei com pai e filho no mesmo livro de Regina Echeverria.
Li em duas sentadas.
Dói perder, dói a realidade, mas como é doce...
Feliz, sou feliz por ter visto este magricela e este velho maluco vivos, e trago-os comigo como gente minha, família, coisa de amor.
Li, gostei, vivi minha saudade e abracei o que já foi.
Obrigada Regina.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Adorei seu blog ... voltarei aqui mais vezes, abraços e bom 2007
Postar um comentário