É
um hábito vagar sozinha pela noite. Faço isso desde menina. Sexta feira
quente, meia noite, tenho 42 anos, desço a Augusta em direção ao
centro. Milhares de pessoas se apinham nas calçadas. Bom sinal,
encontrarei alguém. A maior vantagem de andar sozinho é sempre encontrar
alguém. Da Paulista até a Caio Prado ABSOLUTAMENTE nenhum conhecido.
Tenho 42 anos, é uma sexta feira quente, e entre milhares de pessoas que
se apinham nas calçadas não conheço ninguém. Bem estranho para alguém
que conhece todas as pedras das ruas pelo apelido familiar. Desço o
escadão e vou andar sozinha na madrugada da Nove de Julho, gosto de
emoções fortes. As calçadas dessa cidade viraram extensos dormitórios a
céu aberto. O cheiro de urina é capaz de atingir a estratosfera. O
Pelourinho já foi assim. Subo para o Bixiga, quem é quilombola sabe onde
encontrar os seus. Aquelas mesmas velhas paredes, os mesmos velhos
fantasmas, e a intimidade da casa que me viu envelhecer.Tenho 42 anos,
ando sozinha na noite quente, bebo com velhos fantasmas, brindo pra dar
força pra alguém que nunca foi deste mundo, subo sozinha a 13 de maio às
3 da manhã, discutindo com os sapatos que me machucam os pés. Num
botequim esquecido embaixo do viaduto o samba come, os bêbados me louvam
como se me pudessem alcançar. Chego em casa, e antes de adormecer fico
matutando... Envelhecer é descer a Augusta e não conhecer ninguém numa
quente noite de verão.
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