13 fevereiro 2014

Arrebatamento

Eu tinha 7 anos. E ainda é igual agora. Assustadoramente igual. Cada palavra entrando em mim e mexendo com tudo, uma vontade de chorar, de sair correndo, de largar tudo pra trás ou pedir um abraço pelo amor de deus pela última vez...
Eu conhecia aquela dor e aquela fúria...
Eu tinha 7 anos e sentia tudo aquilo exatamente como sinto hoje.
Aos 7 anos eu já sabia, de verdade, acho que eu sempre soube, acho que isto já veio comigo de onde quer que eu tenha vindo.
Jamais esquecerei de uma tarde, família, churrasco, Vila Mazzei, todo mundo no quintal, dentro da casa alguém põe um disco na vitrola e eu descubro o que é ser POSSUÍDA.
Aquela voz cortante, aquela melodia e eu prevendo futuros, visitando outras vidas, percebendo que ali alguma coisa mudou.
1978, Ditadura Militar, Periferia, um adolescente e seu som e uma criança em pleno estado de alucinação, desgovernada, rasgada em trapos de rejeição e impotência. Arrebatada.
A música acaba, a pergunta: o que é isso ? Ele responde distante: Fagner. Era mais. Mais que Fagner, mais que Simone, mais que Sueli Costa e Abel Silva...
Era eu, nua, apaixonada, vidente, louca, velha, arrependida, inválida, abandonada. Era eu revoltada, inconsequente, passional, insana, e bandida. Eram milhares de eus, todas conscientes dentro de uma criança de 7 anos.
Eu tenho 43 anos, na tv a trilha sonora de um seriado arranca o chão dos meus pés, sinto exatamente igual, exatamente como quando tinha 7 anos...



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