08 janeiro 2006

Incorporada


Ziraldo

Tô num ataque de brasilidade de dar medo. Outro dia acordei negona. Meti tranças no cabelo, argola na orelha(que não via brinco há umas duas encarnações), entrei na saia rodada, deixei a baiana baixar e fui pra vida. Até na cozinha do Reveillon psicografei um bobó de lamber os beiços... Depois, destrancei. Agora tô virada na morena jambo. Muito decote, muito sorriso, e uma ausência medonha de timidez que me faz sair rebolando os dotes dados pelo meu Senhor do Bonfim, fazendo a alegria e sofrimento da galera. Aff, se fosse todo dia verão eu acabaria virando musa de Jorge Amado e Chico Buarque... Aff, o funk ??? Tô ficando atoladinha !!! Até o pescoço...
Tarde em família, criança correndo, eu descalça batendo o maior bolão com os meninos na varanda e pela janela vejo minha mãe lavando os pratos cantando baixinho:
"Tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha ..." Ahhh é impagável ver o prazer da minha genealogia. Minha vó, que beirando os noventa mostra sua flexibilidade baiana dançando "na boquinha da garrafa"... Esperar o que de mim ? Uma austro-húngara? Huahuahuahuahua !!!
Minha infância suburbana, meu DNA afro-sertaníndio baiano e o peso dessa nacionalidade, só podia dar o resultado que deu.
Tô uma Iracema Capitú Gabriela Jurema.
Cabocla.
Mulata.
Safada.
Fogosa.
Tô Vera Verão!
Tô Lacraia !
Tô Geni.
Tô Madame Satã !
Tô virada no tetéu !
Tô Brasil.

Um comentário:

Dayse Batista disse...

Já nem lembro direito como cheguei aqui, mas gostei muuuuito.

Adorei, marquei e voltarei.

Veijo