08 fevereiro 2007

Coisas de Família



Meu avô , Sr José Maria, baiano arretado, estourado como todo bom ariano, fugia completamente ao estereótipo da tranquilidade e velocidade reduzida do povo de sua terra. Sua casa sempre foi a sede da família e era comum durante as tardes haver umas dez crianças brincando, correndo e gritando debaixo de sua rala barba...
Havia dias em que ele berrava na esquina e desaparecíamos todos congelados pelo terror de desagradar nossa autoridade máxima, muito mais fácil seria desagradar a Deus, jamais desagradar meu doce e bravo avô.
Ele era onisciênte e onipresente, baixava a lei e ninguém era louco de desobedecer.
Em 98% do tempo ele só observava e dava pito num ou outro quando o bicho começava a pegar.
Mas um primo meu , O Robinson tomava pitos diários. Aquilo não era um menino, era um cão. Robinson, o terrível. E a trilha sonora das nossas tardes era :

- Róbííí, pára menino. Róbíííí susséééga Róbííííí. Róbííííííí aquiééééta Róbííííí !!!
E todas as outras variações de pedidos para Róbííííí reduzir o ritmo.
Um dia num momento raríssimo de Róbí tranquilo , meu vô passava a mão nos cabelos do menino e o questionava em tom filosófico:
- Por que meu fíín, por que você é tão danado ??? Você é muito levado meu fí, não pode ser assim não... Você não pára meu fí, parece até que tem FRIVIÓCA NO RABO.
Só o fato de ouvir meu vô falar a palavra "rabo" a gente já descontrolava de rir, e provocávamos o Robinson repetindo a frase sempre com um bom e carregado sotaque.
Não imaginávamos o que seria uma frivióca.
Sempre tive a impressão de ser uma alergia ou coceira que não deixasse o levado Róbííí a parar quieto.
A frase cresceu com a gente, e sempre a usamos lá em casa quando cabe nalguma situação e usando inclusive como o nome de Róbíííí no lugar que lhe é de direito.
Cresci, e um dia assistindo um carnaval na televisão, o jornalista avisa:
- Daqui a instantes entrará a frevióca do Bloco ...... !
Aquilo abriu um universo a minha frente !
Entendi enfim como meu avô era profundamente filosófico.
Imagine, como seria possível parar, com a "Vassourinha" tocando alucinada e milhares de pessoas saltitando e levantando ao ar suas sombrinhas pontiagudas, e tudo isso dentro do RABO ???
Agora entendo as travessuras de Robinson.
Sábio avô.

Um comentário:

Anônimo disse...

KKKKKKKKKKKKKKK...

Essa eu preciso pedir o Pedro Ivo
pra ler!

Um beijo.