09 novembro 2014
Ahhh este coqueiro que dá Coco... Gabrielle, sempre Gabrieeeeeelle...
1970, num subúrbio tropical, em um sábado à tarde outonal, nasce mais uma exótica criatura estranha no ninho... A pequena baiana gostava de umas coisas bem diferentes, foi crescendo meio moleque, bocuda, vestia roupa de menino e era dada a jogar futebol, lia uns livros esquisitos, cantava e dançava quando e onde tinha vontade. Chamavam-na de maluca, pirada, doidinha... Sempre falou o que pensava, e assumia, segurava o tranco e se bancava. Invocada, botava banca de valente.
Calça preta, camiseta listada, um sapato preto com solado plataforma era certeza de estar linda e poder dominar o mundo, enquanto passava ouvia a piada: Ei Irmão Metralha, fugiu da cadeia ?
Sobre seus vestidos pretos sempre ouvia: Querida, você parece uma viúva com este vestido reto e este colarzinho de velha !!!
O tempo foi passando, e aos poucos a pequena baiana foi descobrindo que aquela estranheza que sentia chamava bom gosto e que aquela alma que lhe rondava desde o berço, era de uma certa Mademoiselle...
Quando tornou-se mulher feita, passou a "dar banana" para os ignorantes, e hoje desfila absoluta enrolada nas diversas voltas de suas pérolas falsas...
Obrigada por me tirar do limbo, antes mesmo de saber que ele existia.
Merci beaucoup Coco Chanel !
Arretadas seguimos juntas, tecendo realidades e vestindo sonhos.
17 fevereiro 2014
A Beleza
Olho lambedor. Olho viciado. Olho que de tudo quer saber do gosto e do cheiro. Olho desavergonhado, maleducado, que penetra detalhes, invade entranhas... Olho sertanejo.
"Se eu tenho olho, é pra reparar" já dizia Zé Maria, o avô...
Ela olhava mesmo, sem dó e com coragem. E desfrutava desse gozo de prazer.
O gosto do feio e o gosto do bonito sem nem sempre saber dizer qual era qual. Olhava com grandeza.
Olhava no espelho e queria ser bela, contudo se só pudesse fazer um pedido, preferiria ser forte... Ser forte era mais importante! Não negava a raça.
Ser bonita lá tinha pouca valia, servia pra quê, pra arranjar um marido, e depois ? Ser forte nem de marido precisava, dava conta da vida sozinha, sem tem ninguém pra botar cabresto. Não fora feita pra aceitar arreio.
De começo só usava roupa clara, era mesmo pra não chamar atenção, mas tinha o riso frouxo, gostava de gracejar e nem dava cinco minutos de relógio e já estava no meio da roda. Aquela mulher só faltava ter bigode, sua Tia Zilda tinha, e todos sabem: Mulher de bigode nem o Diabo pode !!!
Com o tempo o olho foi desgostando e exigindo mudança. Olho de voz grossa foi logo pedindo: Eu quero é cor !!! O resto do corpo entendeu tudinho. E acatou. E então se sucedeu algo grandioso, o surgimento da IDENTIDADE.
Guimarães Rosa disse:" O sertão está em qualquer parte, o sertão está dentro da gente. "
Era isso, aquele olho sertanejo, olho caatingueiro teve o asfalto como berço mas não negara sua raça. Aquele olho ensinou para aquele corpo o que era a SUA beleza. Aquele olho arredou a cortina e deixou a luz entrar naquela alma.
Aquele olhar, preguiçoso e bolinador, contou que não existe quando nem onde, o importante é ser.
Olho de sapo, olho de boi, olho de peixe, olho de cachorro pidão, olho MEU.
Olho EU !!!
Olho terrível ! Olho que vê até o que ainda nem existe...
Olhar grandioso. Agora eu sei onde está a beleza.
Ariano Suassuna diz: “ A beleza da zona da mata é ligada ao gracioso; a beleza do sertão é ligada ao grandioso. O sertão é grandioso e terrível em certos momentos, o que dá à beleza dele uma conotação muito diferente, muito estranha mas muito forte.”
14 fevereiro 2014
Coração Plural
Quem me conhece sabe: Amo. Se você foi um deles, fique feliz. Se foi muito importante: tá aí a homenagem. Se não está na lista: ainda é tempo, tente outra vez. Se vc só assistiu: divirta-se identificando os personagens no resumo. Se vc acha um absurdo: pegue a senha. Se vc é fofoqueiro: aproveite a deixa e avise a imprensa.
Coração Plural
Sim, amo
Continuo ainda amando todos eles
E os amarei sempre
Cada qual em seu tempo espaço
Penso sempre em cada um
Como quem rega a planta
Sonhando com vida longa, flores e frutos
Penso naquele que me contava desenhos animados,
e no quase primo tão proibido,
o príncipe loiro da sétima série,
e o tímido dono do primeiro beijo.
Amo muito e continuarei amando
meu muso cacau e o beijo depois da canção,
o shogun de coração valente,
e apesar de tudo também amo aquele
que duas vezes me destruiu, por não entender
que a tigresa pode ser escorpião e fenix
quando nasce taurina e camaleoa
Amo com doçura de mel
O terno abutre a quem dei minha carne,
o carinhoso Obaluaê que me cura,
o maluco beleza que do céu me guarda,
e o físico canhoto que do espaço me guia
Amo o gigante menino que me jogou no buraco escuro
E o demônio de cabelo enrolado, onipresente
Que tantas vezes me levou pra passear no inferno.
Amo-os todos
Amores de um dia, de verão, de viagem
Os permitidos e os proibidos
Amo muito e declaro
Amo muito e nego
Amo amar, o amor e vocês
mas sobretudo amo a mim
Que fiz meus dias incríveis, minhas histórias únicas
E ainda de quebra
Num cisco de tempo
Joguei baldes de uma tinta baiana e colorida
Na vida de vocês.
Recebam esta homenagem.
E aceitem: Este coração é plural.
(originalmente escrito em 13/10/2013)
13 fevereiro 2014
Arrebatamento
Eu tinha 7 anos. E ainda é igual agora. Assustadoramente igual. Cada
palavra entrando em mim e mexendo com tudo, uma vontade de chorar, de
sair correndo, de largar tudo pra trás ou pedir um abraço pelo amor de
deus pela última vez...
Eu conhecia aquela dor e aquela fúria...
Eu tinha 7 anos e sentia tudo aquilo exatamente como sinto hoje.
Aos 7 anos eu já sabia, de verdade, acho que eu sempre soube, acho que isto já veio comigo de onde quer que eu tenha vindo.
Jamais esquecerei de uma tarde, família, churrasco, Vila Mazzei, todo mundo no quintal, dentro da casa alguém põe um disco na vitrola e eu descubro o que é ser POSSUÍDA.
Aquela voz cortante, aquela melodia e eu prevendo futuros, visitando outras vidas, percebendo que ali alguma coisa mudou.
1978, Ditadura Militar, Periferia, um adolescente e seu som e uma criança em pleno estado de alucinação, desgovernada, rasgada em trapos de rejeição e impotência. Arrebatada.
A música acaba, a pergunta: o que é isso ? Ele responde distante: Fagner. Era mais. Mais que Fagner, mais que Simone, mais que Sueli Costa e Abel Silva...
Era eu, nua, apaixonada, vidente, louca, velha, arrependida, inválida, abandonada. Era eu revoltada, inconsequente, passional, insana, e bandida. Eram milhares de eus, todas conscientes dentro de uma criança de 7 anos.
Eu tenho 43 anos, na tv a trilha sonora de um seriado arranca o chão dos meus pés, sinto exatamente igual, exatamente como quando tinha 7 anos...
Eu conhecia aquela dor e aquela fúria...
Eu tinha 7 anos e sentia tudo aquilo exatamente como sinto hoje.
Aos 7 anos eu já sabia, de verdade, acho que eu sempre soube, acho que isto já veio comigo de onde quer que eu tenha vindo.
Jamais esquecerei de uma tarde, família, churrasco, Vila Mazzei, todo mundo no quintal, dentro da casa alguém põe um disco na vitrola e eu descubro o que é ser POSSUÍDA.
Aquela voz cortante, aquela melodia e eu prevendo futuros, visitando outras vidas, percebendo que ali alguma coisa mudou.
1978, Ditadura Militar, Periferia, um adolescente e seu som e uma criança em pleno estado de alucinação, desgovernada, rasgada em trapos de rejeição e impotência. Arrebatada.
A música acaba, a pergunta: o que é isso ? Ele responde distante: Fagner. Era mais. Mais que Fagner, mais que Simone, mais que Sueli Costa e Abel Silva...
Era eu, nua, apaixonada, vidente, louca, velha, arrependida, inválida, abandonada. Era eu revoltada, inconsequente, passional, insana, e bandida. Eram milhares de eus, todas conscientes dentro de uma criança de 7 anos.
Eu tenho 43 anos, na tv a trilha sonora de um seriado arranca o chão dos meus pés, sinto exatamente igual, exatamente como quando tinha 7 anos...
Excursão
Os passeios escolares sempre foram motivo de muita tensão.
O pai que sonhava impor poder ditatorial, aproveitava destas oportunidades para ameaçar exercer o veto. E muitas vezes vetava mesmo, só por pirraça...
O melhor seria não ter expectativas. Assim doeria menos.
Mas desta vez a tão sonhada assinatura no papel de autorização foi dada.
O destino seria um museu.
Nem sabia direito o que aquilo significava...
Todo mundo no ônibus, a bagunça, mil gritinhos de euforia e ops já chegou.
Uma casa muito antiga, piso de tábua de madeira corrida, um cheiro estranho de livro velho, um salão gigantesco cheio de estátuas brancas.
O guia explicava que eram imitações, pois as de verdade eram feitas de pedra.
Podia por a mão.
E eu, ao tocar aquilo, senti tesão e vontade de chorar.
Fiquei assustada.
As crianças se encantavam pelas histórias dos deuses gregos, e eu tocava escondido as dobras dos tecidos, os cachos dos cabelos...
E quando vi gigante um Davi com a atiradeira e o descomunal Golias fiquei prostrada de joelhos.
Prazer Dona ARTE.
Embasbaquei-me para todo sempre.
Funcionou, estava SENSIBILIZADA.
Na madrugada 04/02/2014, num incêndio, queimou-se parte da minha história, e um lindo acervo desta cidade.
Sinto como se queimasse a memória da minha primeira vez.
Doeu muito. Sinto por nós Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
O pai que sonhava impor poder ditatorial, aproveitava destas oportunidades para ameaçar exercer o veto. E muitas vezes vetava mesmo, só por pirraça...
O melhor seria não ter expectativas. Assim doeria menos.
Mas desta vez a tão sonhada assinatura no papel de autorização foi dada.
O destino seria um museu.
Nem sabia direito o que aquilo significava...
Todo mundo no ônibus, a bagunça, mil gritinhos de euforia e ops já chegou.
Uma casa muito antiga, piso de tábua de madeira corrida, um cheiro estranho de livro velho, um salão gigantesco cheio de estátuas brancas.
O guia explicava que eram imitações, pois as de verdade eram feitas de pedra.
Podia por a mão.
E eu, ao tocar aquilo, senti tesão e vontade de chorar.
Fiquei assustada.
As crianças se encantavam pelas histórias dos deuses gregos, e eu tocava escondido as dobras dos tecidos, os cachos dos cabelos...
E quando vi gigante um Davi com a atiradeira e o descomunal Golias fiquei prostrada de joelhos.
Prazer Dona ARTE.
Embasbaquei-me para todo sempre.
Funcionou, estava SENSIBILIZADA.
Na madrugada 04/02/2014, num incêndio, queimou-se parte da minha história, e um lindo acervo desta cidade.
Sinto como se queimasse a memória da minha primeira vez.
Doeu muito. Sinto por nós Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
18 janeiro 2014
Por que você fez isto ? ( ou Eterna busca ao Inexplicável )
Existe algo dentro de mim que pede movimento, talvez seja Vênus em Gêmeos, talvez personalidade ou simplesmente um resquício do DNA nômade. É preciso seguir em frente, experimentar o novo, abrir as portas para o futuro. É quase uma agonia, uma coceira, necessidade fisiológica.
Então, eu me permito, não resisto, atendo ao chamado.
Havia uma necessidade de raspar a cabeça, um impulso, um desejo formal. Simbólico, deixar pra trás um ano difícil, um corpo que não reconheço, uma vaidade ferida, uma rejeição amorosa... Materializar tudo nos cabelos e mandar embora. E assim foi...
A ideia era arrancar a vaidade pela raiz, masculinizar, ser a guerreira OBÁ, negra alta magra careca, FORTE, poder lutar e vencer todos os meus Aliens.
Ledo engano.
Automaticamente ao cair os últimos fios, entendi o significado de GLAMOUR e PODER.
Não importa a idade, a cor da pele, o formato ou o peso do corpo, muito menos quanto dinheiro tem, TODA mulher CARECA é PODEROSA.
Acontece dentro da gente uma sensação de RENASCIMENTO e FORÇA. E isso é visível. Eu diria pras amigas que vão passar por quimioterapia, RASPEM JÁ, usem esta força, encarem isto como beber um elixir, só tenham cuidado, esta sensação vicia.
Ser uma MULHER CARECA é sair daquele lugar comum em que muitas vezes nos sentamos acomodadas. VOCÊ passa a atrair TODOS os olhares, e todas as dúvidas, todos os questionamentos, então chega a hora de escolher a quem VOCÊ quer dar atenção, O QUÊ vc quer ou não responder. Adoro !
Aí chega o GLAMOUR... Mesmo a mais simples das mulheres, sem o cabelinho que emoldura, se torna EXÓTICA. Pelada já está bonita, adornar vira um brinquedo... As coisas deixam de ser "inhas".
Ser uma MULHER CARECA é um abuso, é dar na cara da sociedade, é ser livre.
Te acham maluca, te acham batalhadora por lutar contra uma doença, te acham rebelde, te acham de um tudo, mas nada sabem e de verdade querem muito saber qual o mistério...
Ser uma MULHER CARECA é ser INCRÍVEL !!!
09 janeiro 2014
Somente uma Simone qualquer, a "B"
Aniversário dela. Como uma Simone qualquer, ela contou mais um ano. E para que isso interessava mesmo??? Para nada. Apenas um sinal de estar viva, afinal viver é envelhecer... Mal sabia que continuaria a envelhecer mesmo depois de morta. O pensamento a condenou a uma certa "imortalidade"... Talvez quisesse estar um pouquinho bela, um tanto apaixonada, uma certeza apenas: BEM livre ! Sem frescura, sem encheção de saco. De presente uns livros ou um bloco novo de anotações, ou um vidro novo de esperança, porque a coisa não tá fácil. Uma cerveja com os amigos num boteco bem maneiro, e uma roda de conversa bem desafiadora. 106 anos bem Beauvoir. A Symon te daria um beijão na boca, só pra dar de comer ao escândalo. Voltaríamos bêbadas pra casa, de braços dados, a "B" e a "D".
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