Sertaneja

Compreender cada palavra de um Suassuna armorial radical. Sentir no peito uma saudade louca de uma terra em que não vivi. Saber o cenário de olhos fechados, como sabem as tartarugas e as aves em suas migrações miraculosas no retorno inexplicável ao local de sua origem.
Trago em mim a caatinga.
Sou o mandacaru que resiste, sou a umectante palma.
Espinhuda, fere fundo o couro dos incautos, mas alimenta e mata a sede da criação nas quadras do tempo tirano.
Filha da terra que ninguém crê fértil, lugar onde a poeira a tudo engole e o sol escalda.
Leito de uma beleza teimosa, crua e dura como a pedra, feita de sobrevivência e cor.
Encantamento que escorre da flor que dura uma noite só.
Vaca que se atreve a dar leite movida apenas pela fé daquele que tudo que tem pra lhe dar é um último punhado de sal.
No meu sangue a força da reza de um homem que se apega a São José para que na entrada de julho, na mudança da Lua, venham as águas.
Tocam nos meus ouvidos rabecas, cantam lavadeiras à beira do açude. No ar passeia um perfume de café, em minha boca bailam sabores de rapadura e requeijão.

Não há como duvidar do DNA.