04 agosto 2013

Crescer


E chega um tempo em que você não se importa com nada mais que não seja "encontrar um sentido na vida"... Pra que foi que eu vim até aqui mesmo ??? E pode parecer um pouco estranho mas você percebe que cresceu.
Não sei que dia foi, e já não lembro se faz muito ou pouco tempo, sei que não quero mais abrir mão daquilo em que eu acredito, só pra me encaixar, só pra ser aceita.
Estar tão sozinha dói um bocado, mas é como o cansaço após a  faxina... Você fica só o bagaço, mas percebe que alguém precisava fazer aquele trabalho e a sensação de ver tudo organizado e limpo é como um dia de sol, aquece e inspira...
Estou me sentindo como quem coloca óculos e passa a enxergar imagens mais nítidas.
Vejo as situações, sei o que devo fazer, sou preguiçosa e resistente, mas não há cobranças, então opto por fazer a coisa certa, mesmo que doa e dê trabalho...
O preço costuma ser alto, mas o retorno é certo.
Sinto uma saudade medonha da adolescência, de um tempo de relações físicas: muito abraço, muito beijo, muito colo e carinho, com ou sem conotação maliciosa... Agora as coisas são mais distantes, meninos e meninas já não podem ser amigos pois os conjuges arrepiam de terror com estas idéias, e já não há cafuné, passar a tarde deitado de conchinha ou uns amassos bem dados só pra matar carências... Mas tubo bem, diminuiram os conflitos, as culpas e as inseguranças, o que torna a vida bem mais fácil.
Entendo melhor meus pais, meus avós, respeito de verdade até quem não conheço, mas não vejo muito isto por aí... Fica uma melancolia por não encontrar aquele tempo que sonhei, mas a esperança é planta de altitude:muito resistente.
Morreram minhas ilusões de amores, assisti um a um suicidarem-se bem na minha frente. Alguns eu já esperava, outros me fizeram sofrer dores de parturiente, mas sobrevivi.
Estou forte. Sou feliz. E agora entendo quando os médicos falam que "Crescer dói".
Concordo.


11 junho 2013


periferia.trabalhou o dia todo pintando paredes. por volta das seis da tarde um cheirinho de churrasco entrou pela janela. não comia comida de verdade desde quarta feira, era sábado. decidiu descer e pegar uma refeição. o restaurante era do outro lado da rua. lavou o rosto, retirou a tinta das mãos, deu uma ajeitada no cabelo. usava camiseta e calças bailarina, nos pés tenis pretos. básica ! ao entrar no restaurante prontamente um garçom pediu que o acompanhasse até o fundo do salão. apenas tres mesas estavam ocupadas. ia perguntar se havia apenas opção rodízio ou se poderia ser a quilo, quando o garçom avisa: teremos o prazer de servir graciosamente um marmitex com todas as opções do buffet se você não se importar de aguardar aqui no fundo. poderia chamar a polícia já que havia uma base móvel a menos de 100 metros. em uma fração de segundo decidiu: dane-se, vou comer de graça.
foi para casa pensando na fome. a comida estava muito boa.sushi de abacaxi, carpaccio, cuzcuz de frutos do mar e uma deliciosa salada de polvo.um suculento pedaço de pernil e um pedaço de lasanha. pensou: voltarei lá, na certa usando meus piores trajes... huahuahuahuahuahuahuahuahua
Entro no vagão praticamente vazio, um senhor dormindo lá no fundo, um rapaz perdido no som que sai de seu celular e bem perto de mim uma moça com o olhar passeando pelo vazio... O vagão exalava o cheiro dos livros comprados em sebos. Um misto de perfume impregnado e poeira de salas fechadas. Um cheiro que preenchia todos os espaços. Pensei ser o livro que estou lendo neste momento e que estava dentro da bolsa, como que por reflexo o peguei e dei uma cheirada. Não era ele. Começa então minha ginástica olfativa. Era ela, a moça de olhar no vazio. Era o perfume dela. Aspirei aquilo como se fosse tragar o último ar que houvesse no planeta. Profundo, intenso, me deliciei, e viajei até as histórias lidas na infância. Talvez ela trabalhasse em uma biblioteca, talvez fosse somente o perfume, só sei que hoje viajando por apenas seis estações visitei novamente "Meu pé de laranja lima, O menino do dedo verde e Alice no País do Espelho"... Ao chegar em casa corri pro armário e fui abraça-los com a saudade de amor que partiu há tempos...

21 abril 2013

YAB-A-QUAR-A

A denominação Jabaquara vem do tupi-guarani YAB-A-QUAR-A, que significa rocha ou buraco e também era chamada de Mata dos Negros Fujões, porque nos tempos da escravidão era uma mata deserta que servia de abrigo aos escravos fugidos e que pertencia a uma das inúmeras sesmarias do Padre José de Anchieta, da Companhia de Jesus. Desde o século XVII já circulava uma galera por aqui, pois era o caminho para a localidade de quem vinha de Santos a caminho de Santo Amaro e Borda do Campo.
Minha família chega por aqui no início dos anos 60 do século XX .
Eu entro em cena no dia 09.05.1970, no Hospital Nossa Senhora de Lourdes.


Não nego a origem da terra onde nasci, sou liberta.
Cruzamento de negros e brancos, brotei PARDA.
Meus pais eram vizinhos, Colônia Mineira Pater X Colônia Baiana Mater.
Era costume na célula Mater que primogênitos fossem batizados pelos avós, e assim foi Padrinho e Madrinha me lavaram e me ungiram com óleo e água benta na Igreja de Nossa Senhora das Graças.


Agora a menina tinha nome.
Lá foi-se crescer sobre aquela terra misteriosa...

01 abril 2013

One - Bodas de Prata

1º de Abril.
Lá fora uma estrela brilha de teimosa, como no dia em que nos conhecemos.
25 anos.
Você disse que era pra sempre. Eu acreditei.
Dia da Mentira, um belo dia para a morte da última certeza.
Mas também, só eu pra acreditar em sonho, promessa e amor eterno...
Você me daria o mar, o céu, um barco e muitas fitas cassete pra eu gravar todos meus pensamentos.
Fitas cassete, pode ??? O tempo passa...
Você me prometeu um amor eterno, com direito a pacto de morte.
Depois jurou o mesmo amor na cara de pau, pra outra, pra Deus e pra mais um montão de gente que estava presente, inclusive EU.
Picareta Lover. Ahhh se eu resolvesse avacalhar e dizer que aquele sentimento me pertencia...
Mas tudo bem, foi bom acreditar que poderia ser verdade... Esta ilusão me alimentou sempre que estive faminta. Sempre tive uma arma potente contra a solidão sabendo que em algum lugar existia você. 
É ruim quando a gente cresce, e percebe a crueldade da realidade.
Perdi você para o previsível, para o cotidiano, para o mundo real.
Nos perdemos jovens, saudáveis e vivos.
Nada se realizou, nem o sonho, nem a promessa, nem o pacto.
Mas dentro de mim há algo de brinde, de champagne, de beijo na boca, de cachoeira.
Talvez por me libertar da ilusão, talvez por saber que um dia sonhamos juntos, e isto é raro.
Por hoje fica o parabéns, você pregou a mais linda peça que alguém pode pregar num 1º de abril.
Te amo. Pra sempre.

21 fevereiro 2013

O Piano da Estação


7h15, o alarme avisa que começou a correria. Ligo o piloto automático. Banho, acordar, roupa aceitável pela sociedade, cabelo aceitável pela sociedade, no boteco da esquina um café engolido com meio lanche (não dá tempo de comer o lanche inteiro, levo a outra metade pra viajar) entro no metrô e observo a "sociedade touch screen" deslizando seus dedinhos por aparelhos que não tenho dinheiro pra comprar. Não faço parte. Não tenho grana. Não tenho tempo. Subo pela escada rolante porque esporte pela manhã não é o meu forte, e chego no saguão. Tecla PAUSE. Vejo o piano, e nele sempre alguém fazendo um carinho, dando um minuto de atenção, abrindo o portal pra dimensão da beleza, da música e da poesia. Eu enxergo no meio do caos a delícia do universo desejado. Diariamente, por uma fração de segundo, eu tenho uma certeza: eu quero ser o Piano da Estação. Tecle Play. O relógio de ponto espera, o único lugar onde me é permitido o touch screen. Digital Funcionário.

21 janeiro 2013

Naufrágio

É um hábito vagar sozinha pela noite. Faço isso desde menina. Sexta feira quente, meia noite, tenho 42 anos, desço a Augusta em direção ao centro. Milhares de pessoas se apinham nas calçadas. Bom sinal, encontrarei alguém. A maior vantagem de andar sozinho é sempre encontrar alguém. Da Paulista até a Caio Prado ABSOLUTAMENTE nenhum conhecido. Tenho 42 anos, é uma sexta feira quente, e entre milhares de pessoas que se apinham nas calçadas não conheço ninguém. Bem estranho para alguém que conhece todas as pedras das ruas pelo apelido familiar. Desço o escadão e vou andar sozinha na madrugada da Nove de Julho, gosto de emoções fortes. As calçadas dessa cidade viraram extensos dormitórios a céu aberto. O cheiro de urina é capaz de atingir a estratosfera. O Pelourinho já foi assim. Subo para o Bixiga, quem é quilombola sabe onde encontrar os seus. Aquelas mesmas velhas paredes, os mesmos velhos fantasmas, e a intimidade da casa que me viu envelhecer.Tenho 42 anos, ando sozinha na noite quente, bebo com velhos fantasmas, brindo pra dar força pra alguém que nunca foi deste mundo, subo sozinha a 13 de maio às 3 da manhã, discutindo com os sapatos que me machucam os pés. Num botequim esquecido embaixo do viaduto o samba come, os bêbados me louvam como se me pudessem alcançar. Chego em casa, e antes de adormecer fico matutando... Envelhecer é descer a Augusta e não conhecer ninguém numa quente noite de verão.

18 janeiro 2013

Eu vi Mamãe Oxum na cachoeira...

Sina.
A minha foi nascer do ventre de minha filha. Ela me deu a vida para que eu pudesse ser sua mãe . E quanta honra. E quanta alegria !!! Meu bebê me ensinou a andar e hoje eu a levo pela mão. Tão diferentes e tão amalgamadas. Meu urso panda cor de rosa, minha boneca luxenta, minha cara metade. Só existo pra te ver sorrir. Amor sem nome. Minha musa, minha parceira de estrada, caixa dos meus segredos, vou contigo aonde for !!!